
sábado, 30 de janeiro de 2010
El Corte Inglés

Conversas com Deus#1
- Gostaste? Fico muito contente com isso, porque há aí algumas pessoas que desdenham daquilo, como o teu irmão Taramagos, por exemplo, está sempre a criticar-me o livro.
- Queres dizer Saramago, não é Deus?
- Isso! Saramago! Isto só pode ser um acto falhado, engano-me sempre no nome do homem.
- Mas voltando ao teu livro, como é que se consegue escrever tão bem? É que até mete raiva, como diz o Saramago sobre o outro que escreveu Jerusálem, não há direito que um tipo tão novo escreva tão bem...
- Eu também era novito quando escrevi a bíblia. Vou confessar-te um segredo, eu tirei um curso de escrita criativa com Alá. Já leste alguma coisa dele?
- Não, por acaso não li nada.
- Mas devias, mas devias...
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
J.D.Salinger

terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Fluir
sábado, 23 de janeiro de 2010
Escrita Inteligente

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Implosão

terça-feira, 19 de janeiro de 2010
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Pensei – Já foste embora – e contudo nós continuamos aqui, presos a esta dimensão que nos limita, a contarmo-nos histórias com o objectivo de afastar a morte. O padre faz o discurso da praxe. O caixão está aberto mas eu não acredito que esteja lá algum corpo. Quatro sírios te protegem dos diabos deste mundo. A talha dourada dos altares, os anjos que se enrolam com as trompetas, a mãe e o Cristo morto no seu colo, tudo me parece saído de um mundo inventado pelos homens. A luz sinistra que semi-ilumina esta presença é apenas reconfortada pela certeza de que um sol mínimo brilha ainda lá fora. Ouçamos o padre falar como se fosse um comboio fantasma. Meus irmãos, se não fosse a certeza que o abismo da morte nos conduz à vida eterna, se não fosse isso, a vida não teria qualquer sentido. Estas palavras soam como gemido triste. Já não se põe a questão de acreditar ou não nestas palavras, põe-se apenas a questão de saber que absurdo é este, que loucura é esta a que vamos assistindo, impotentes, relutantes, renitentes, revoltados e mudos? Pergunto-me se o padre acredita nas suas próprias palavras, naquele discurso manco e órfão, naquele seu tom monocórdico de desgraça inevitável, ou se ele próprio não se dará conta do seu erro, da sua culpa confusa em tudo aquilo em que compromete a sua alma ininteligível. Basta sermos minimamente espertos para vermos, sentirmos, que há aqui uma história muito mal contada.
Sentimos que a única coisa com sentido é continuarmos vivos. A morte não nos diz respeito, e contudo é ela o nosso denominador comum, é ela quem nos espera no fim da linha, na paragem onde não queremos jamais chegar.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Notas

Sendo assim, ia eu a caminho do trabalho, e quase me arrisquei a escrevê-los (aos pensamentos ditos brilhantes) num bocado de papel que trazia no bolso. Tinha sorte, pensei eu, pois havia uma caneta Bic preta num dos bolsos do meu casaco de couro. Estavam ao meu lado duas raparigas, e isso foi o suficiente, confesso-o agora, para inibir a minha coragem de escritor. Acabei por não escrever coisa alguma, espreitando apenas o bocado de papel, que para minha surpresa continha já meia dúzia, ou mais, destes pensamentos que por vezes considero brilhantes. Senti uma certa vergonha em exibir aquele papelito rabiscado em frente àquelas meninas bonitas. Era uma espécie de atestado de senilidade precoce, eu ali segurando um pedaço de papel com anotações crípticas, à maneira dos velhotes que coleccionam recortes de jornal, ou tomam nota de coisas absurdas que lhes parecem extremamente importantes. Assim sendo, os pensamentos brilhantes ficaram na gaveta, isto é, no sítio onde nasceram, pois os outros pensamentos (vergonha e desconforto da idade) levaram a melhor sobre o meu corpo. Fiz de conta que consultava uma nota importante, franzi o sobrolho de forma semi-inteligente, e guardei apressadamente o papel, sentindo nesse momento o corpo da caneta Bic na palma da mão, e era como se tudo em mim fosse uma traição.
sábado, 16 de janeiro de 2010
Credo
Jesus em 2001
Depois de ouvirem tais palavras muitos comentavam - "Não há dúvida que é Ele o Salvador, pois nunca antes alguém falou com tal sabedoria..."
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Escriturário
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Blog Template
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Ternura dos 40

A partir de uma certa idade já não interessa muito o que vai acontecer. Os sonhos são direccionados para os mais jovens, aqueles que estão a iniciar-se na arte do sonho. Que vai fazer o menino? Quer ser escritor? Vai tocar bateria numa banda? Está a pensar em fazer um curso em Inglaterra... talvez vá tirar um mestrado em filosofia do cinema.... escreve crónicas enquanto viaja... o meu filho está à espera que lhe mandem uma resposta de Chicago, pode ser que consiga entrar na escola de fotografia Lawrence Rodger... Mas quando temos quarenta, esperam que os nossos sonhos estejam bem enterrados e pedem-nos para termos juízo.
Chegados à meia-idade temos de aguentar o nosso engano, o erro em que nos metemos. Podem dizer-nos que temos de nos conciliar com a vida, procurar um equílibrio no que fazemos, ver o sol e a praia, ler uns livros, mas o fruto apetecido, a maçã mais vermelha não é para quem cometeu um erro tão imenso quanto o nosso. Temos o direito à tristeza, ninguém o nega, mas a pouco mais do que isso. Se quisermos até podemos tomar alguns fármacos, mas temos de ter calma, já não temos vinte anos, não podemos ser ridículos, temos de crescer. Temos o direito à mudança se essa mudança não colidir com nada do que está instituído. As mudanças assim mais valera que não existissem; é uma espécie de mudar tudo para que tudo fique na mesma.
Nada pode mudar assim! À medida que o tempo passa e nos aproximamos do fim, as medidas de mudança têm forçosamente que ser maiores, mais radicais, pois um leve desvio de rota não mudará já nada no destino final. Se queremos mudar temos de mudar de forma grandiosa, trocando o tudo por nada, ou vice-versa. O resto são paliativos, e gera-se à nossa volta uma espécie de murmúrio de vergonha. Já devíamos ter juízo, mas no entanto continuamos a sonhar, persistimos em algo que já nos mostraram que não é para nós. É um silêncio incómodo que nos vestem sobre a pele, e não raras vezes sentimos como se estivêssemos a velar um morto desconhecido. São raras as pessoas que fazem o que querem, como querem, e mais raras são aquelas que sabem o que querem fazer.
Isto surge mais como uma queixa, bem sei, mas a verdade é que não consigo livrar-me destes pensamentos inoportunos. Quando estamos lançados num determinado tipo de vida, ainda que nos desgoste, somos impelidos a prosseguir nessa mesma vida, sorrindo e cantando mesmo que tudo pareça estar errado. Como se pode mudar quando não se sabe quem somos? E mesmo sabendo quem somos como se pode operar a mudança? Existe um certo encantamento numa vida falhada que não é fácil definir. Podia ter sido maravilhoso, podia ter acontecido assim, mas no entanto a vida, as coisas da vida não permitiram que a flor desse fruto. Refugiados procuram asilo no mundo do sonho, porque este mundo não é para eles, não se conseguem encaixar, produzir, correr e amar como seria esperado que o fizessem.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Cão

Muitas vezes penso que sou como um cão, que de tão contente se encontrar, lhe é difícil encontrar ocupação. Estou certo que todos já viram cães como este, saltitantes, de estatura média, loucos na saúde, e saudáveis na sua loucura. Correm desvairados numa direcção para, de repente, estancarem num pedaço de relva, como se todo o mundo fosse um enorme ponto de interrogação, e depois retomam a corrida furiosa, sem destino aparente ou real. São capazes de passar longos minutos tentando trincar a sua própria cauda, enovelando-se numa espécie de tontura obsessiva, parando apenas para dar um salto bem alto, como quem acabou de apanhar um choque eléctrico, e depois seguem na sua obsessão, espreitando-nos de soslaio com os seus olhos doces de ternura.
domingo, 10 de janeiro de 2010
AVC - alerta amarelo

Agora é só esperar por Junho para abrir a época dos afogamentos. Adoro este país!
O trabalho

sábado, 9 de janeiro de 2010
Barbearia Garret
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O Sr. Branco faz jus ao nome, com os seus cabelos ondulados penteados para trás. As conversas são feitas em forma de ladainha, e é uma alegria ouvi-lo dizer -" Então o paizinho como está?", ou então - "Deixe-me só tratar deste amigo primeiro, que é rápido, é só aparar o bigode..." e depois metendo conversa com um miúdo irrequieto que lá foi com o avô - "Oh rapaz, queres um copo de água?"
Só troco esta barbearia por aquelas casas modernas de centro comercial, indústrias assépticas do penteado, por haver lá meninas que nos dão massagens libidinosas involuntárias na cabeça enquanto nos lavam o cabelo, e que durante o corte, num jogo de espelhos eróticos, nos deixam espreitar os bicos das mamas leitosas pela bata branca que trazem sobre o corpo nu. É só esperar pelo ângulo certo, no momento certo, e zás. Bingo! Entretém muito.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Mar liso

Lembrei-me disto quando vi o mar quieto hoje. Um lago preto pacífico onde as almas poderiam adormecer. Eram noites quentes em que eu me sentava num banco de jardim, daqueles vermelhos e antigos, e ficava assim a ouvir a minha respiração e a olhar o que via à minha frente: mar, árvores, prédios, luzes, cães com donos e sem donos, gelados no chão, bicicletas e amor. Ah! mas aquele mar feito lago, esse mar nunca mais será meu!
domingo, 3 de janeiro de 2010
Macacos somos nós

Há quem defenda que as diferenças, entre nós e os outros animais, sejam mais quantitativas do que qualitativas. A essência da nossa humanidade parte do princípio de que somos uma espécie à parte, uns deuses caídos no meio dos outros animais, e assim sendo falamos da alma e da auto-consciência de forma intermutável, como se no ser humano se tivesse registado um salto quântico inexplicável, salto esse que definitivamente nos atirou para fora da órbita do jardim zoológico que habita o nosso planeta.
Torna-se então preocupante quando descobrimos, ou melhor, nos fazem descobrir que há uma série de coisas que os outros animais têm e que não convinha que tivessem para descargo das nossas consciências intranquilas. Estudos feitos com macacos revelaram níveis de auto-consciência notáveis. Quando postos em frente a espelhos de corpo inteiro os macacos aproveitavam para espreitar partes do seu corpo que de outra forma lhes estariam vedadas. A prova dos nove foi feita quando os anestesiaram, e os pintaram com manchas de tinta vermelha em diferentes partes dos seus corpos. Os macacos acordaram e olhando-se ao espelho, estranharam as manchas, e foram com as mãos directamente sobre os pontos nos seus próprios corpos onde a tinta vermelha estava espalhada. Poderiam ter ido sobre o espelho, poderiam ter tentado tocar nas manchas que viam nos macacos que estavam no espelho, contudo tocaram em si próprios.
É caso para dizer: é o fim da macacada!