Todos os poetas são como pássaros
pombas plúmbeas matizidas de verdete
debicam a merda dos outros e pensam
imagino-os num quarto fora de época
puxam o cabelo oleoso em tufos da
nuca para a testa silenciosa dos mortos
às vezes aparecem nas revistas literárias
fotografias com grão e óculos a negrito
uma nuvem de fumo encobre-lhes o génio
no cinzeiro as beatas rezam a história
os dedos amarelecidos atestam a veracidade
do inominável e telúrico poema
que lhes sai do ovo como cu de galinha