terça-feira, 20 de abril de 2010

Saneamento básico

   Há duas primaveras em Portugal. A primeira é aquela que vem nos livros da escola e que todos nós conhecemos, que tem passarinhos enamorados, meninas adolescentes fazendo salivar os quarentões, árvores explodindo em tons de verde translúcido, e muitas hormonas viajando ao sabor dos ventos. Depois temos a primavera típica da nossa terra, que é a dos funcionários da câmara esburacando tudo quanto é passeio e rua das nossas cidades. Aparecem já de manga curta e colete fosforescente, capacete de protecção mal encaixado na cabeça pensadora, e normalmente trincam uma erva comprida em jeito de selvagens mascando tabaco. As combinações são infindáveis, e os propósitos do trabalho também. Temos serviços de saneamento, instalação de fibra óptica pela enésima vez, condutas de gás, ramal de electricidade em reposição, e quando chegam ao fim de um troço, começam a abrir de novo o chão com picaretas ensurdecedoras, em jeito de quem sinaliza a chegada da época da destruição. Quando os passeios são do tipo calçada portuguesa, então aí temos trabalho até ao início do outono, pim, pim, clac, numa arte de encaixar cubos de pedra que se pode dizer quase milenar. Além disto, dá-lhes na gana, muitas vezes, para serrarem árvores que fazem parte do património. Eu gosto muito da Primavera à Portuguesa!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Loucura

   Foi nas escadas que davam para a luz do dia que ouvi a sua voz. As pessoas seguiam como soldados sonâmbulos, em fila indiana, degrau a degrau até à liberdade das árvores verdes, plantadas mesmo à saída da paragem. Ela dizia - doutora, eu não consigo... não consigo, não tenho vontade de nada... não sei que fazer doutora, eu não quero nada... não consigo ir trabalhar, eu não tenho vontade de nada, oh doutora - e eu tive medo de olhar para trás, e continuei subindo as escadas, atrás de uma formiga cinzenta, de punho cerrado e ameaçador, que no seu andar geométrico, quase me batia no queixo. Subíamos as escadas. Pensei, deve ser uma mulher madura, na meia-idade, desesperada, ligando à sua psiquiatra, e pensei também que a sua médica devia ser uma boa pessoa, caso contrário nem atenderia a sua chamada. Já no passeio a sua voz alta fura a cidade, e por entre as formigas vai pedindo ajuda, indiferente a tudo e a todos diz - mas doutora, eu não consigo... tive aqueles sonhos estranhos de novo, doutora, tenho aqueles pensamentos horríveis... eu não quero mais isto doutora... Eu penso que a mulher se despiu com estas palavras. Estará ela nua? Estará de pijama? Não tenho coragem de olhar para trás, e vou andando como quem foge em silêncio, sem querer chamar a atenção de ninguém. Tenho medo que ela me grite - TU AÍ! TU QUE FOGES DE MIM, NÂO SERÁS TÃO LOUCO QUANTO EU?

domingo, 11 de abril de 2010

Sal da Vida

Out of Africa.

sábado, 10 de abril de 2010

Livro sem fim

   Isso é o que chamo de surpresa agradável. No meio de uma daquelas feirinhas de livros, que aparecem como oásis nos sítios mais improváveis, eis que encontro este livrinho perdido no meio de tantos outros, e logo me apaixono pelo seu conteúdo multidimensional inqualificável. E se digo que é inqualificável, é porque é isso mesmo que apetece dizer de um livro que não se deixa prender a categorias hierárquicas, classes absurdas, ou estantes de filosofia. O autor é como o livro, e o livro como o autor: inacabado, sem fim...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sombras

Quero que as sombras do mundo se vão todas foder.