terça-feira, 20 de abril de 2010

Saneamento básico

   Há duas primaveras em Portugal. A primeira é aquela que vem nos livros da escola e que todos nós conhecemos, que tem passarinhos enamorados, meninas adolescentes fazendo salivar os quarentões, árvores explodindo em tons de verde translúcido, e muitas hormonas viajando ao sabor dos ventos. Depois temos a primavera típica da nossa terra, que é a dos funcionários da câmara esburacando tudo quanto é passeio e rua das nossas cidades. Aparecem já de manga curta e colete fosforescente, capacete de protecção mal encaixado na cabeça pensadora, e normalmente trincam uma erva comprida em jeito de selvagens mascando tabaco. As combinações são infindáveis, e os propósitos do trabalho também. Temos serviços de saneamento, instalação de fibra óptica pela enésima vez, condutas de gás, ramal de electricidade em reposição, e quando chegam ao fim de um troço, começam a abrir de novo o chão com picaretas ensurdecedoras, em jeito de quem sinaliza a chegada da época da destruição. Quando os passeios são do tipo calçada portuguesa, então aí temos trabalho até ao início do outono, pim, pim, clac, numa arte de encaixar cubos de pedra que se pode dizer quase milenar. Além disto, dá-lhes na gana, muitas vezes, para serrarem árvores que fazem parte do património. Eu gosto muito da Primavera à Portuguesa!

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