segunda-feira, 17 de maio de 2010

No reino do Papa

   Fui ver o Papa. No íntimo do meu coração, talvez esperasse ser como a outra que tocou na orla da túnica de Cristo, enquanto Ele caminhava apertado por entre a multidão, e ouviu-O perguntar - "Quem me tocou?", ao que ela respondeu - "Fui eu". Claro que a mensagem aqui é contrária à minha intenção de contacto físico com alguém. O acto de tocar levemente a túnica, no meio de toda a confusão e aperto em volta, mostra que a comunhão é feita através do coração. Os outros apertavam-No de todos os lados, mas Ele sente, precisamente, aquela que mal O tocou.
   Se eu quisesse tocar ao de leve este Papa, certamente teria de morrer primeiro, ou então, morreria no meio do processo. E o mais triste é que acabaria apenas por tocar um vidro anti-bala, fumado, onde talvez a minha mão ensaguentada, espalmada, provocasse uma espécie de asco piedoso por parte de Sua Santidade. Este é o reino do nosso mundo, aquilo que temos.
   No meio da multidão que enche a praça, mesmo ao meu lado, ouço um tipo falando ao telefone. Fala de forma gutural, num volume exagerado para a ocasião -"Tá bem, tá bem... nós tamos aqui, sim, já cá tou, vim à missa... vim ver..." e logo começam à sua volta pedindo silêncio. Um homem chega mesmo a dizer - " Oh pá, isto é uma missa! Fala mais baixo!" e o rapaz acena-lhe com um gesto que parece querer dizer que já falta pouco. O homem enerva-se. O rapaz, para onde olho agora directamente, aparenta fisionomia de algum tipo de atraso. Será que o homem não vê isso?, penso eu. E retoma a sua repreensão dizendo ao rapaz - " Oh pá, vê se te calas! Isto é uma missa!". O rapaz acaba a chamada, indiferente ao homem, e faz um resumo da mesma, quase aos berros, a uma senhora velhinha que é a sua companhia ali.
Isto tudo quer dizer o quê?
Como diz na bíblia, Quem puder compreender, que compreenda. Eu por mim, cada vez entendo menos.

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